“Manteigas é o coração da Serra da Estrela. Um lugar onde as pessoas vivem com tempo, com significado, onde a imensidão da natureza nos abraça com aconchego, ao mesmo que mostra que tudo o que nos rodeia é maior que nós”: quem o diz é Flávio Massano, presidente da Câmara Municipal de Manteigas. Confesso apaixonado pela terra que o viu crescer, tem feito sua missão trazer esta vila para as bocas do mundo, e mostrar que ainda há muito por descobrir neste pequeno paraíso de Portugal.

Flávio viveu quase 15 anos em Lisboa. Por lá estudou direito e trabalhou como consultor na área da fiscalidade, mais tarde também na área de gestão. “Tinha muito sucesso a nível profissional em Lisboa, mas sentia que muito do que tinha conquistado na capital se devia ao lugar de onde tinha vindo. De ter crescido com uma educação do interior, com valores e princípios”, afirma Flávio. “Olhar para esta vila e ver todo o potencial que tem (e tinha) e sentir que não estávamos a fazer tudo o que podíamos, fez-me querer candidatar.”. A 26 de setembro de 2021 era eleito como Presidente da Camara Municipal de Manteigas com apenas 31 anos.

Nas ruas da pequena vila que integra a Rede de Aldeias de Montanha o corrupio foi grande nos dias seguintes às eleições. “Ai, o meu menino está tão grande”, diziam-lhe as vizinhas, orgulhosas por tudo o que Flávio já tinha alcançado. “É uma sensação muito boa sentir o carinho da comunidade. Manteigas é casa, foi aqui que nasci, tenho cá boa parte da família e amigos. Esta terra sempre me deu tudo e quis retribuir.

Para Flávio fazer o seu melhor não passa por apresentar elaborados cadernos de encargos prontos para grandes construções de betão armado. Também tem de os haver, mas essa não é a sua prioridade. Flávio quer uma Manteigas mais cosmopolita, aberta ao mundo e à infinidade de possibilidades que isso pode trazer. O ponto de partida começa sempre no seio da comunidade, mas juntos olham para o futuro. “Queremos tornar esta vila num ponto de chegada e não só de partida, tal como acontece tantas vezes no interior. Mostrar que se pode viver aqui com muita qualidade, que o interior tem muito para oferecer”, afiança.

Com menos de 3000 habitantes, aqui ainda há uma vida que é partilhada com entusiamo com a comunidade. “Somos uma terra hospitaleira, que sabe receber, onde cabe sempre um prato para quem vem por bem. Há sempre um pedaço de queijo feito com as próprias mãos para partilhar ou um pouco de pão cozido no forno de lenha da aldeia para petiscar. Há verdadeira comunhão entre as pessoas e o território, e isso é incrível de se viver”, diz Flávio, com emoção.

Estando cem por cento dentro do Parque Natural da Serra da Estrela, bem no coração da montanha, Manteigas nunca poderá ser uma zona com elevados índices de construção de alojamento ou pejada de unidades fabris. É preciso respeitar a envolvência, e isso faz-se preservando e investindo no ponto mais atrativo da vila: a natureza que os rodeia. O turismo tem vindo a crescer de forma gradual e estruturada ao redor de Manteigas. Atualmente consegue aliar duas vertentes diferentes, mas que se complementam. Se por um lado mantém o turismo de natureza a florescer, está a conseguir de forma sustentada divulgar o enorme património industrial que tem sido preservado com distinção. Quem visita Manteigas ainda consegue observar indústrias a produzir como se fazia há 100 anos, admirar peças únicas com elevada qualidade que são vendidas com muito valor acrescentado. São verdadeiros museus vivos. “Agora, os filhos da terra, que tinham ido para fora na procura de melhores oportunidades, começa a olhar para Manteigas como um bom sítio para investir, e isso são sinais muito positivos”, diz com orgulho Flávio.

Os dados não deixam margem para dúvidas: entre 2011 e 2021 Manteigas foi o município da sub-região das Beiras e Serra da Estrela que mais cresceu em termos de volume de negócio, com um aumento de 48%; é o segundo município desta região com mais hotéis, só sendo ultrapassada pela cidade da Covilhã; é o único município daquela zona com um hotel de cinco estrelas, com mais de 52 mil dormidas na região durante 2021. “Queremos ser o município que preserva o seu passado, que tem orgulho nas suas origens, trabalhando-as de forma alinhada com os princípios e valores do século XXI. Sempre respeitando o saber e as endemias deste território único”, conclui.

 

Texto: Maria João Alves, Aldeias de Montanha