“Este é o projeto de vida do meu pai!”. As palavras ditas com orgulho por Alexandra Dias deixam perceber que o Museu do Azeite, obra imponente erguida no cimo da vila de Bobadela, é mais que um simples edifício construído para celebrar o fruto que brota nas oliveiras da região. É uma sentida homenagem ao profundo amor que António Dias, empresário de sucesso de Oliveira do Hospital, concelho que integra a rede das Aldeias de Montanha, tem ao néctar mais tradicional de Portugal: o azeite.

Há mais de três décadas que António sente os lagares como uma segunda casa. O cheiro doce das azeitonas carnudas comprimidas contra a mó é perfume intenso que se grudou à sua pele, é o motor que há anos alavanca a sua vida. Lado a lado com Maria Manuela, o amor de uma vida, foi contrariando as vozes derrotistas que amiúde lhe garantiam que ali, naquela pequena terra com vista para a Serra da Estrela, o azeite não vingaria.  “Isso é coisa para só dar para os lados de Trás-os-Montes ou em terras alentejanas…”, tantas vezes lhe disseram. Mas António teimava que era ali, na terra que o vira nascer, que estava o segredo para o seu sucesso. O azeite seria o motor para enaltecer a sua terra, disso não havia dúvidas.

O primeiro lagar de António é hoje ponto de visita obrigatória para quem visita o Museu do Azeite de finais de outubro a dezembro. Ali, as mós de pedra ainda deslaçam os nós das azeitonas mais rijas e são testemunhas de tradições seculares. “Ainda hoje, tal como se fazia nos tempos dos romanos, as pessoas juntam-se no lagar para petiscar a tibornada, as migas e o bacalhau, num convívio que honra o azeite novo”, conta Alexandra. Orgulhoso detentor do título de proprietário do primeiro lagar mecanizado do distrito de Coimbra, António sempre cuidou de preservar as relíquias que iam ficando esquecidas nos lagares abandonados de norte a sul do país. “Naquela altura havia muito lagar abandonado pelo país. O meu pai foi comprando peças esquecidas, uma aqui, outra acolá. Estas relíquias estão reunidas no nosso museu, para preservar a memória de como tudo começou. Apenas as peças dos tempos romanos são cópias fiéis, todas as outras são originais”, garante Alexandra.

Inaugurado oficialmente a 16 de março de 2019, pela mão do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, o Museu do Azeite continua a colher os suspiros de Alexandra de cada vez que cruza as portas daquele edifício tão disruptivo. E pensar que tudo começou com um projeto final do curso profissional de turismo que Alexandra frequentava!  “Na altura de apresentar o meu projeto decidi que ia pôr no papel a ideia do meu pai de ter um museu que honrasse o azeite”, lembra. “Pedi a um amigo arquiteto, Vasco Teixeira, que me fizesse um esboço para colocar na minha apresentação da prova de aptidão profissional. Quando mostrei ao meu pai, ele ficou encantado com a arquitetura, com aquela forma tão original, tão diferente do que se via naquela altura”, recorda entre sorrisos. A semente estava lançada, não havia volta a dar nos planos há muito sonhados por António: em 2014 Alexandra apresentava a sua ideia numa sala de aula, e em 2015 era anunciado em Diário da República que o sonho de uma vida ia mesmo avançar.

Financiado com o apoio do projeto Portugal 20/20, o museu é hoje mais um ponto turístico obrigatório na vinda à Serra da Estrela. “É um pequeno desvio dos pontos turísticos mais conhecidos, mas quem nos visita depressa percebe que vale a pena os minutinhos a mais de viagem fora da rota principal”, afiança Alexandra. Lá dentro, um enorme espólio explica como tudo começou, como a arte de fazer azeite evoluiu e para onde caminha este segmento de mercado com tanto potencial. “Ainda há muito para desenvolver na área do azeite, um mundo de opções para explorar! A missão do museu é contar a história do azeite, mas também dar a conhecer a nossa terra e mostrar que ainda há muito por descobrir no interior”, afirma com entusiasmo Alexandra.

E como nem só com artefactos seculares se conta a história do azeite, é no restaurante do museu que o paladar avança sem medos para descobrir pratos onde o azeite é estrela maior.  Com vista panorâmica para a Serra da Estrela, com muitas das Aldeias de Montanha a espreitar lá ao fundo, a serra mostra sem medos os seus muitos encantos, de este a oeste. Há ainda muitas atividades para miúdos e graúdos que são a promessa de um dia bem passado: crianças até aos dez anos podem colocar a mão na massa e fazer uma deliciosa manteiga de azeite; a partir dos 13 é um peddy paper que lhes desperta os sentidos, e para os seniores há provas de azeite na loja.

A recuperar de um acidente rodoviário muito grave há pouco mais de um ano, António continua a dizer que o caminho é para a frente. Sempre com garra. Lado a lado com Maria Manuela e com a ajuda preciosa das filhas, o homem que há décadas se apaixonou pelo azeite ainda tem muitos planos para concretizar. Com mais dois lagares de sucesso, um na região do Douro e outro para os lados de Gouveia, é na Bobadela que o sonho continua a ter um gosto especial. “Este é o projeto de vida do meu pai. Um sonho tornado realidade, à custa de muito trabalho. Foi aqui, na Bobadela, que tudo começou. E hoje cabe-me a mim e à minha irmã, com muito orgulho, honrar o trabalho de uma vida, por muitos e bons anos!”. Mais informações, aqui.