Olhar para o futuro, enquanto se honra o passado. Respeitar as tradições que há muito nos aconchegam a alma, trazendo-as para o presente na esperança de um tempo mais auspicioso. A premissa pode parecer grandiosa, mas é exatamente isso a que se propõe o projeto Museu do Futuro das Aldeias de Montanha, um museu digital de experiência imersiva e multimédia das Aldeias de Montanha.

Anunciado recentemente como um dos vencedores da edição de 2022 do Promove – O futuro do interior, uma iniciativa financiada pela Fundação La Caixa em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, o Museu do Futuro das Aldeias de Montanha tem um objetivo bem definido: preservar e valorizar o património material e imaterial desta região, afirmando-a como um território de experimentação, criativo e sustentável. “Através do uso de tecnologia digital, o museu quer revitalizar e potenciar o território, os seus recursos e as suas comunidades e, ao mesmo tempo, contribuir para captar novos residentes, novos modelos de negócio e novas oportunidades num enquadramento de sustentabilidade social, económica e ambiental, afirmando as Aldeias de Montanha como um território de oportunidades”, explica a ADIRAM- Associação de Desenvolvimento Integrado das Aldeias de Montanha em comunicado.

Fruto do empenho de um consórcio multidisciplinar liderado pela ADIRAM, o Museu do Futuro das Aldeias de Montanha conta com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa como parceiro científico, com a empresa de design FaunaLab para o desenvolvimento tecnológico, com a NEST – Centro de Inovação do Turismo, para a consultoria estratégia, e com a Wazo Coop, parceiro espanhol que assegura a observação tendo em vista a futura replicação transfronteiriça do projeto.

Partilhar com orgulho o que molda a alma das gentes das Aldeias de Montanha, desta vez num formato diferente, é o propósito que guia este consórcio. “Num museu tradicional muita da história é contada através dos objetos, com um grau elevado de formalidade. Aqui queremos contar a vida destas comunidades tal como é. Não queremos que seja um substituto – até porque nada substitui ir até ao local e ver-, mas é um aguçar de curiosidade ao tanto que ainda há por descobrir”, explica Ana Melo, gestora do projeto e designer de comunicação.

Mas como funcionará na prática este museu? A resposta passa pela partilha de imagens, de vídeos, mas também pela tecnologia da realidade virtual. A plataforma digital irá oferecer experiências de realidade virtual com ligação à experiência física no território, através da existência de touchpoints nas Aldeias com acesso a conteúdos digitais pelos smartphones dos utilizadores. João Rosa, da Fauna Lab, parceira tecnologia neste consórcio, explica: “Ao entrar na aplicação, poderei ver em 360 graus uma aldeia, uma ruela ou um monumento. Como a experiência é imersiva, ao colocar os óculos de realidade virtual terei a impressão de estar no local, de ver o artesão a trabalhar, de observar aquele espaço e paisagem”, elucida João. Os mais céticos torcerão o nariz à possibilidade de descobrir os encantos da Serra no conforto do lar, mas João apressa-se a apontar os benefícios deste museu inovador: “O fato de termos uma experiência imersiva ajuda-nos a criar uma relação diferente com o que vemos, há um laço mais forte que se cria com o que vemos, ouvimos, sentimos”, explica. “O nosso objetivo é mesmo esse: estreitar laços com aquele espaço, com aquelas pessoas”.

Mas não se trata de estreitar laços com a comunidade apenas para deleite dos utilizadores da aplicação. É bem mais que isso. É tentar construir um futuro mais prospero para o interior e suas comunidades. “Depois de recolhidas as informações no terreno sobre as populações, queremos usar esse conteúdo como uma espécie de banco de dados, com os recursos disponíveis na região. Uma excelente forma de mostrar o que de melhor se faz por ali, mas também como informação útil para empreendedores, por exemplo”, explica Ana Melo. “Queremos trazer novas pessoas às Aldeias de Montanha, não deixar que se percam no tempo. Tentar que mais pessoas as conheçam, que percebem é que possível viver e trabalhar ali, desenvolver produtos e negócios nas aldeias. Mas acima de tudo, queremos mostrar o que de melhor as aldeias têm para oferecer”, afirma.

O projeto vai envolver as comunidades locais em todas as fases do projeto, através de metodologias colaborativas e inclusivas, para que as suas histórias, testemunhos e o que têm para ensinar não se perca no tempo. E como se consegue isto? Com trabalho de campo, com conversas longas sem hora para terminar, com empatia para ouvir o que funciona ou precisa de ser melhorado na comunidade. “Queremos que nos digam o que precisam, o que lhes faz falta, o que pode ser melhorado. Não é impor uma solução, é procurar sinergias. Afinal de conta são estas pessoas que moram lá, não nós, e só faz sentido se estiver, de facto, ao serviço da comunidade”, afirma Marco Neves, professor e investigador da Faculdade de Arquitetura, que estará a orientar alunos desta instituição no trabalho de campo.

Uma ligação perfeita entre o passado e presente das aldeias, usando a tecnologia e soluções de design social inovadoras para desenvolver o que pode ser um futuro brilhante. Para já o museu arrancará como projeto-piloto em três aldeias da rede – Cabeça, Videmonte e Alvoco das Várzeas -, prevendo-se a ampliação às restantes, bem como a replicação transfronteiriça, numa sinergia entre Portugal e Espanha. Um museu inovador feito com e para a comunidade que estará online em junho de 2023.

O projeto Museu do Futuro das Aldeias de Montanha é um projeto vencedor do Programa Promove, uma iniciativa da Fundação “La Caixa” em colaboração com o BPI e a fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

 

Texto de Maria João Alves | Fotografias de Pedro Ribeiro, José Conde