Solucionar é sempre melhor do que remediar

 

Expressões como “toneladas equivalentes de carbono” ou “metros cúbicos de gás”, não lhe metem medo. Muito pelo contrário. Soa a primeira sílaba e logo o coração de Raquel Quinteiro começa a bater em ritmo acelerado, o cérebro apressa-se a juntar informação e a mente a procurar soluções. É imediato. Talvez o seu pensamento analítico seja consequência das longas horas a escrutinar relatórios científicos enquanto gestora de energia, mas há muito que Raquel guia a sua vida por uma máxima: solucionar é sempre melhor do que remediar.

“Sempre fui fascinada por encontrar soluções construtivas, que permitissem poupar energia e que fossem sustentáveis”, confessa. Foi com esta ideia que, terminado o curso em engenharia ambiental na Universidade de Coimbra e de algum tempo como projetista de redes, Raquel rumou a Inglaterra. Queria perceber o que o mercado de gestão de energia – à época já fervilhante lá fora, pouco mais que morno por cá-, tinha para lhe oferecer. Warrington, a meio caminho entre Liverpool e Manchester, ganhou o estatuto de porto de abrigo para ela e o marido, estava 2013 quase a terminar.

O desejado salto da teoria para a ação que Raquel tanto ansiava aconteceu numa das maiores redes de supermercados do Reino Unido. Todos os conceitos, ideias e projetos de gestão de energia, que durante tanto tempo pareciam não ressoar junto de quem a ouvia, eram finalmente postos em prática. Mais, os resultados eram mensuráveis e a poupança inegável. Depressa qualidades como eficiência, rigor e inovação eram associadas ao nome de Raquel, despertando o interesse das maiores empresas do setor. Até que um dia, o telefone tocou com uma proposta irrecusável: o convite para ser gestora de energia e sustentabilidade num dos maiores hospitais de Liverpool.

O nascimento dos filhos, em 2017, trouxe o desejo de uma vida mais pacata e a vontade de regressar às origens. “Sempre ambicionei ter um curriculum internacional, para depois voltar a Portugal e aplicar ativamente esse conhecimento extra cá”, confessa. Com cautela, Raquel começou a orquestrar o regresso ao país, não deixando, no entanto, que o coração lhe toldasse a razão. Afinal tinha um ótimo emprego, numa boa cidade, enquanto em terras lusas o seu ofício ainda era olhado com desconfiança e o setor ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Os dias iam passando, e a lista de prós e contras sobre a permanência em Inglaterra versus regresso a Portugal continuava a levantar muitas dúvidas. O Regressar, um programa estratégico criado para apoiar os emigrantes, bem como os seus descendentes e outros familiares, proporcionando-lhes melhores condições no regresso ao nosso país, foi o último empurrão na altura de tomar uma decisão. Raquel ia mesmo despedir-se para rumarem a Portugal. Do hospital a resposta surpreendeu. “Os meus diretores queriam muito que continuasse, nem que isso mesmo implicasse eu trabalhar remotamente, mesmo que fosse do coração da Serra da Estrela”, conta a rir. O calendário marcava junho de 2021 quando a família se instala de malas e bagagens em Figueiredo, uma pequena aldeia das terras chãs da montanha, no concelho de Seia.

Hoje é no espaço Cooperativa Cowork @ Aldeias de Montanha – Lapa dos Dinheiros, uma antiga escola primária pensada e renovada para ser um local de trabalho sem igual, que Raquel encontra conforto quando os dias a trabalhar a partir de casa lhe parecem intermináveis. “Tentei encontrar um espaço que me oferecesse as valências que tenho em casa, com o extra do contato, da partilha de experiências com os outros utilizadores”, afirma. Lá dentro, a inspiração de um ambiente moderno e prático, com sala de reuniões com ecrã, um espaço lounge, cozinha/zona de refeições, e várias salas de trabalho. Lá fora, o melhor que a natureza tem para oferecer, com o Souto da Lapa dos Dinheiros, uma praia fluvial e os percursos pedestres. “É fantástico fazer o intervalo da hora de almoço, sentada nos banquinhos de madeira, em contato com a natureza. Aqui, no cowork, sinto-me me casa. Trouxe-me um bocadinho do sentimento de paz que tinha em Inglaterra”, conta.

Hoje, é muitas vezes a partir da sala de trabalho do cowork que Raquel organiza o seu dia de trabalho, tantas vezes frenético. “Neste momento estou a fazer um estudo de viabilidade de instalação de uma eólica para suprimir as necessidades de energia do hospital. Giro um budget de mais de 20 milhões de libras, e a calma que encontro aqui ajuda-me a focar”, confessa. E planos para o futuro? “Desbravar caminho por cá. Eu gostava muito, confesso!”, diz Raquel a sorrir. “Continuo a acreditar que é possível fazer a diferença”.

 

Texto de Maria João Alves | Fotografias de Pedro Ribeiro