Serra da Estrela, morada de estradas épicas e Aldeias de Montanha inesquecíveis

As Aldeias de Montanha da Serra da Estrela reservam como sabemos muitos segredos e tanto para visitar e conhecer. Mas e se lhe dissermos que por vezes, tanto como o destino, importa também aproveitar a viagem e o tanto que esta tem também para oferecer. Estradas sinuosas, que se enquadram na identidade do território e que se confundem tantas vezes com a própria paisagem. Entre no carro, suba na mota ou na bicicleta, e venha daí connosco percorrer esta(s) duas estrada(s) !

 

Começamos a viagem de hoje pela Aldeia de Montanha de Folgosinho, no concelho de Gouveia. Afinal, que melhor sítio poderia haver para arrepiar caminho do que uma das nossas Aldeias de Montanha? Primeiro, já que aqui está e já que vai a Folgosinho, não se esqueça de conhecer todo o seu património histórico e natural, que vale bem a pena, antes de se fazer à estrada. Já ouviu falar do Caminho Natural? Não tem numeração de estrada, nem uma formal identificação, mas é sem dúvida uma das vias mais especiais para conhecer a Serra da Estrela, ligando a Aldeia de Montanha de Folgosinho a Manteigas, uma das Vilas que integra a rede das Aldeias de Montanha.

Um caminho transitável há poucos anos e que era antes apenas um percurso de pastores e utilizado pelas populações locais para andar a pé. Este Caminho Natural é então não apenas mais uma via, mas uma forma única de conhecer o território, as suas gentes e a sua identidade. No total, estamos aqui a falar de 20 quilómetros curvilíneos, sinuosos como a Serra da Estrela os desenhou, com paisagens impressionantes, a parecer desenhadas em tela e sempre diferentes e em mudança logo das várias estações do ano. Talvez daí venha o seu nome, já que estamos a falar de um caminho que se cruza pela natureza fora, numa sensação de espaço e ao mesmo tempo de tranquilidade e paz. Nesse caminho passará ainda por muito daquilo que define e caracteriza a própria Serra da Estrela: lagoas, cascatas, formações rochosas, ribeiras… Um mundo em aberto, uma tela que estará sempre por pintar e completar. Lá ao fundo, onde a estrada termina e se cruza com a N232, surge Manteigas. Outro local com tanto para conhecer e com tanto para visitar. Além disso, é também uma porta aberta para outras Aldeias de Montanha mesmo ali ao pé, como é o Sameiro, o Vale de Amoreira ou as Penhas Douradas.

Mas nem só pela zona norte da Serra da Estrela se podem cruzar destes belos percursos que nos dão a conhecer tanto deste património vivo e em mutação que nos rodeia ao mesmo tempo que nos abriga. A N230, que já chegou a vir de Aveiro a esta região e a ser a sua porta aberta para o mar, é também um mundo cheio de novas oportunidades, caminhos e paragens obrigatórias. Agora, esta estrada liga Oliveira do Hospital à Covilhã, terminando o seu percurso na vila do Tortosendo. E tantas são as Aldeias de Montanha por onde passa e que a ninguém serão ou ficarão certamente indiferentes.

Nesta altura de verão, é um percurso que se reveste de maior interesse, já que muitas são as zonas fluviais que aparecem ao longo destes 64 quilómetros e que vos convidamos desde logo a conhecer. Ainda no concelho de Oliveira do Hospital, a aldeia de montanha de Alvoco das Várzeas dá-lhe as boas-vindas, com uma praia fluvial muito convidativa, mesmo ali na margem do rio Alvôco. Mas não gaste logo todo o seu tempo por ali, já que apenas alguns quilómetros mais à frente surge Vide, Aldeia de Montanha do concelho de Seia, que tem não só uma praia fluvial, mas ainda um dos maiores núcleos de gravuras rupestres pré-históricas nacionais. Uma faceta guardada numa aldeia onde a primeira estrada (verdadeiramente assim chamada) só chegou já na segunda metade do século XX. Talvez também por isso a sua identidade esteja tão intacta, tão à flor da pele e da pedra. Ainda neste concelho não fica nada longe da Aldeia de Montanha de Alvoco da Serra e de muitas outras aldeias e freguesias já localizadas no concelho da Covilhã, como Sobral de São Miguel, muito conhecida pela sua edificação considerável em xisto.

Mas sigamos em frente nesta N230, que até chegar ao seu fim no Tortosendo passa ainda bem pertinho de mais duas Aldeias de Montanha marcantes e a chamar por si. Primeiro, a Aldeia de Montanha da Erada, que para além da sua piscina renovada e sempre muito atrativa em tempos de calor, tem em si o dom de bem saber receber. E como não podia deixar de ser na Serra da Estrela, saber receber anda sempre de mãos dadas com bem comer. É que na Erada pode provar alguns dos pratos mais tradicionais e típicos da gastronomia local. Só para o deixar de água na boca, imagine-se a desfrutar de um cabrito recheado, de uma broa de milho de carnes, uma chanfana e ainda para adoçar o palato as famosas papas de carolo. Fomos convincentes não fomos?

A terminar, era incontornável este percurso parar na Aldeia de Montanha de Cortes do Meio. Despercebido a quem passa perto e não conhece, mas depois dos nossos conselhos já não tem como não parar. Não há na Serra da Estrela uma concentração tão grande em tão pouco espaço de lagoas e cascatas. Não é por acaso que Cortes do Meio é a capital das piscinas naturais em Portugal. São já doze as piscinas naturais sinalizadas, todas elas com águas frescas, límpidas, cristalinas e principalmente convidativas, muitas delas complementadas com vistosas cascatas naturais. Vá por nós, não se esqueça de pôr o fato de banho na mala do carro, ia certamente arrepender-se.

A Serra da Estrela e as suas Aldeias de Montanha têm certamente muito para conhecer, mas nunca se esqueça de vir com tempo. É que por vezes, há caminhos que têm tanto para nos contar e ensinar como os próprios destinos. Como é aqui o caso…

 

Texto de Fernando Teixeira | Fotografias de Pedro Ribeiro e Município de Manteigas