As Aldeias de Montanha, na Serra da Estrela, para lá do inverno

Pensar na Serra da Estrela e no imaginário das suas aldeias de montanha, remete-nos quase sempre para aquele que é o seu ex-libris: a neve. Muitos são os turistas, de todos os pontos do país e também do estrangeiro, que visitam no inverno a Serra da Estrela e que aproveitam essa ocasião para subirem à Torre ou para conhecerem as várias aldeias de montanha que a ladeiam ou que dela fazem parte. Um local ímpar para esse tipo de turismo no nosso país e que por isso lhe trouxe todo esse reconhecimento e vinculação.

Mas desengane-se quem pensa que a Serra da Estrela e o todo o seu potencial turístico e maravilhosos cenários se esgotam apenas nesse período do ano. É que esta altura de verão também tem muito que se lhe diga, e que se conheça. Venha daí conhecer alguns desses pequenos paraísos e fazer esta viagem connosco.

 

A subida é íngreme, mas a recompensa sem igual

Para quem sobe a Serra da Estrela pelo lado da Covilhã, vai desde logo assinalar com felicidade e regojizo a chegada à aldeia de montanha das Penhas da Saúde, a porta de entrada para o coração da Serra da Estrela e um dos sítios ideais para começar a desfrutar de algo que a natureza tem de único e sempre cativante: paz, silêncio e tranquilidade. Uma imensidão para aproveitar com calma, para respirar, para sentir, sendo talvez por isso o local ideal para desacelerar do ritmo do ano que já se cumpriu e reequilibrar energias para o resto que ainda está para vir no regresso ao trabalho.

O que aconselhamos? Antes de continuar a subida, prove o que de melhor tem a gastronomia regional e delicie-se com os pratos tradicionais no Varanda da Estrela. Para fazer a digestão, pode ainda caminhar pelo percurso PR14 CVL, a Rota da Varanda dos Pastoresum percurso circular de 12 quilómetros que o leva a conhecer os caminhos ancestrais dos pastores, que percorriam em transumância. Pode depois voltar a fazer-se à estrada para continuar a conhecer o tanto que a Serra da Estrela e as suas aldeias de montanha têm para oferecer, ou pode decidir dormir nos vários hotéis localizados nas Penhas da Saúde, ou até na sua Pousada da Juventude e seguir apenas no dia seguinte. A escolha é sua e será sempre bem feita!

 

Uma infinidade de hipóteses e rumos

Continuando a subir a Serra da Estrela, passará por várias lagoas naturais e miradouros com vistas inesquecíveis, pelo que é recomendável que vá parando aqui e ali para aproveitar ao máximo o caminho. Na Serra da Estrela, o caminho também é destino a cada instante. E ali, onde os distritos de Castelo Branco e da Guarda se cruzam e se entrelaçam, dá por si a entrar no concelho de Manteigas sem reparar, numa simbiose natural a que a serra dá palco e harmoniza.

Pode continuar a subida até à Torre, mas se tiver mais tempo perca-se num percurso praticamente circular que o leva a conhecer várias das aldeias de montanha que compõem a zona mais alta da Serra da Estrela e siga por Manteigas. Ainda antes de chegar à vila de Manteigas, parte da rede das Aldeias de Montanha, passa desde logo por alguns locais emblemáticos e de visita obrigatória. O Covão d’Ametade é desde logo um sítio idílico para fazer um piquenique e aproveitar as maravilhosas sombras que proporciona a 1500 metros de altitude e de onde pode contemplar toda a beleza dos afloramentos graníticos dos Cântaros e do Covão Cimeiro. Para os amantes da natureza, é sem dúvida os lugares em que a encontrará mais em comunhão consigo e com o caminho que está a percorrer nesta aventura connosco. Se não tiver feito o trilho do dia anterior, ou se ainda tiver estofo para novos percursos, deixamos-lhe desde já algumas sugestões nas redondezas: a Grande Rota do Zêzere, PR5-MTG, Rota do Maciço Central, e o PR6-MTG, Rota do Glaciar, que liga Torre a Manteigas., e que pode encontrar no nosso website com todas as indicações necessárias. Chegando a Manteigas por esta altura, pode ainda conhecer as várias praias fluviais do concelho e refrescar-se num belo final de tarde e dar ainda um saltinho às restantes aldeias de montanha dessa zona, nomeadamente Sameiro, Vale de Amoreira ou mesmo Valhelhas se tiver tempo para se afastar um pouco mais da sua rota.

 

Um destino para todas as estações do ano

Dormindo pelo caminho ou seguindo estrada fora, rapidamente entrará nos concelhos de Seia e Gouveia e terá um novo mundo de oportunidades e cartões de visita daqueles que quase exigem uma visita, pela sua beleza e principalmente pela sua singularidade. Para além das Penhas Douradas e do seu Vale do Rossim de que tanto lhe temos falado nas últimas semanas, as aldeias de montanha do concelho de Seia são de paragem obrigatória, principalmente nesta altura do ano. Desde logo a aldeia de montanha do Sabugueiro, uma das mais altas de todo o país, que como a planta que lhe dá o nome faz um bem incalculável a quem a visita, o remédio ideal para corpo e mente. E esse remédio começa logo à mesa e com boa comida no prato. É que aqui, o seu palato será posto à prova, tentado por queijos, mel, enchidos e carnes de cabrito, borrego, frango, tradicionalmente assadas em caçoilas de barro preto. Quem disse que a comida de conforto e de forno não sabe bem num dia de verão, é porque nunca se arriscou pelas maravilhas gastronómicas do Sabugueiro. Aqui, poderá também ter ainda um contacto mais direto com os cães de gado da raça de Serra da Estrela, dali oriundos e com uma missão ancestral, mas ainda hoje fundamental na coexistência com a vida selvagem e na garantia da subsistência de muitos que ainda têm na produção pecuária o seu principal sustento.

Uma sugestão mais inusitada e que muitas vezes fica de fora dos roteiros mais típicos e tradicionais? Deixe o carro perto da Lagoa Comprida e, através de uma caminhada pela natureza, dê um salto ao Covão dos Conchos e ao seu popular funil, como é conhecido, e que tem corrido o mundo nos últimos anos, pelas extraordinárias fotografias que proporciona, isto para além da beleza indescritível que só os nossos olhos conseguem ver e guardar para a eternidade. Uma obra notável de engenharia que permite o transvase da água, deste espelho de água, para a Lagoa Comprida, e que visualmente se confunde na paisagem como se dela sempre tivesse feito parte, numa ilusão de ótica perfeita e que reforça também uma magia natural que está inerente a todo este património natural da Serra da Estrela. E se o dia estiver de calor, pode ainda dar um último mergulho na praia fluvial do Sabugueiro antes de seguir a sua viagem.

Antes de ir embora e ainda antes de ir à Torre e comprar algumas recordações desta viagem memorável, aconselhamos ainda um desvio à aldeia de montanha de Loriga e à sua praia fluvial de cortar a respiração. Não é por acaso que todos anos esta praia é apontada como uma das mais belas e convidativas do país e mesmo as fotografias não nos deixam desmentir. Mais que um paraíso na terra, é sem dúvida um paraíso na serra. E o último dia merece uma ida a banhos revigorante num local assim. Águas límpidas e frescas da ribeira da Nave, de qualidade garantida como comprova a sua Bandeira Azul… Não é em todos os locais que conseguimos estar sentados dentro de água como aqui, em pequenas piscinas naturais moldadas pela paisagem, a combater um dia bem quente de verão e com um horizonte impressionante de perder de vista bem à frente de até onde os nossos olhos alcançam.

 

Dificilmente conhecerá tudo de uma só vez e teríamos de escrever um livro, ou vários, para tudo lhe conseguir contar num só roteiro. Mas é isso que as Aldeias de Montanha têm de especial, a sua multiplicidade de conceitos e ofertas, assente numa singularidade própria e individual de cada uma, que o farão regressar vezes sem conta sempre com novos objetivos, novos destinos traçados no mapa e, sem dúvida, em qualquer estação do ano. Contamos consigo, faça já o seu plano consultando tudo o que as Aldeias de Montanha têm para lhe oferecer. Venha perder-se e encontrar-se connosco!

 

Texto de Fernando Teixeira | Fotografias de Pedro Ribeiro, Célia Gonçalves e Municípios de Manteigas e Covilhã