Birdwatching nas Aldeias de Montanha, uma janela de oportunidades

 

Turismo de natureza, um segmento em crescimento

O território das Aldeias de Montanha é rico em paisagens deslumbrantes e que maravilham os muitos que por aqui passam, sejam os que por cá estão, os que de cá são e cá regressam ou os muitos que vêm conhecer tudo o que este território tem para oferecer. Um elemento que se destaca, nesta zona do Interior do país, é obviamente o património natural único e ímpar que marca inevitavelmente quem se aventura por estas Aldeias de Montanha.

Nos últimos anos, este património natural tem-se tornado cada vez mais motivo de muito interesse e atração turística, com o surgimento de cada vez mais ofertas voltadas para o turismo de natureza a nível nacional e com especial relevância nesta região do país. Caminhadas, percursos, trilhos, experiências imersivas… Cada vez mais este tipo de ofertas vai ganhando mais diversificação e principalmente mais operadores envolvidos e a oferecer este tipo de experiências.

Uma mudança a que a pandemia veio dar ainda mais força, com o turismo a voltar-se mais para o público nacional e com os portugueses a privilegiarem um maior contacto com a natureza e em ambientes mais isolados e afastados das urbes e do seu movimento. Esta diferença nos hábitos de consumo no que ao turismo diz respeito, levou os portugueses a olhar para o Interior com outros olhos e a finalmente partirem à sua descoberta. Essa procura foi de tal ordem, que no começo de 2021 e segundo números oficiais do INE, a região Centro do país, onde se inserem as Aldeias de Montanha, era a terceira região do país a registar mais procura e dormidas, apenas atrás da região Norte e da região da Área Metropolitana de Lisboa, tendo nessa altura praticamente o dobro das dormidas do que a região do Algarve. Embora em 2022 existam diversas regiões em recuperação e a retomar o seu lugar e os números pré-pandemia, a região Centro vai-se mantendo uma referência no turismo nacional, muito alavancada pela oferta diferenciada que tem quanto ao que ao turismo de natureza diz respeito.

 

O birdwatching como atração turística diferenciada

Dentro do turismo de natureza, existe uma atividade que tem ganho especial relevância e novos amantes e praticantes: birdwatching, ou seja, a observação (e muitas vezes também fotografia) de aves. O território das Aldeias de Montanha, nomeadamente, é um dos destinos mais interessantes e promissores do país e também da Europa para esta atividade, com centenas e centenas de espécies a poderem ser observadas e que são muitas vezes ameaçadas ou endémicas no seu estatuto de conservação.

Nesta altura do ano em especial, com a chegada da primavera e até ao final do Verão, muitas são as espécies migratórias e estivais que chegam ao nosso território e a esta região, preenchendo os céus de cor, vida, movimento e dinamismo e trazendo novos sons e emoções às nossas paisagens.

Nem a propósito, celebrou-se este sábado o Dia das Aves Migratórias, a 14 de maio, um assinalar de data que reforça exatamente esta chegada e que as Aldeias de Montanha não esqueceram, trazendo-lhe alguns exemplos das aves que podem observar por esta altura quando nos visitarem. Agarrem nos cadernos ou nos telemóveis e comecem a tirar notas e apontamentos de tudo aquilo que poderão ver atentamente nos céus ou ouvir nos silêncios de comunhão com a natureza no nosso território.

 

Exemplos do que podemos observar

Dentro destas centenas de espécies que poderíamos destacar, selecionámos cinco muito especiais e que nos presenteiam todos os anos com a sua presença.

Abelharuco

E por falar em multiplicidade de cores, nada melhor que começar por falar no Abelharuco, uma ave que é verdadeiramente inconfundível, exatamente por ser muito colorida e ser facilmente identificada. De garganta amarela, com o seu peito e ventre azulado, o dorso vermelho e uma “máscara” preta, tem ainda duas penas centrais que se destacam claramente das restantes. Esta espécie, especialmente abundante na Beira Interior, é estival e chega a Portugal no início de abril, ficando depois por cá até Setembro. Não tem um estatuto de conservação preocupante no nosso país, assim como a próxima ave de que lhe falamos, o Papa-figos. Esta espécie, também ela de cores vivas, tem hábitos muito discretos que fazem com que seja muito mais fácil ouvi-la do que propriamente observá-la. Embora a fêmea seja mais facilmente confundível, o macho não deixa quaisquer dúvidas: tem a cabeça e o dorso num amarelo vivo, asas pretas e o bico vermelho. Além disso, o seu canto aflautado é também uma característica muito marcante e que ajuda na identificação. Mas deixamos-lhe o aviso, existem algumas aves que imitam bem o seu canto, nomeadamente o estorninho-preto. Esta espécie costuma chegar de África entre o final de abril e o início de maio, regressando depois no final de agosto.

Papa-figos

Outra espécie também muito interessante com que se pode cruzar é o Papa-amoras, uma ave bem adaptada aos habitats de altitude como aqueles que caracterizam as nossas Aldeias de Montanha e não sendo por isso surpreendente encontrá-lo e ouvi-lo acima dos mil metros de altitude. É comum que já o encontremos com a sua plumagem de inverno, em tonalidades acastanhadas mas sempre com a sua mancha branca nas asas, ainda assim bem menos vistosa do que a plumagem nupcial. Este migrador de passagem, também estado pouco preocupante em Portugal, costuma estar presente até ao começo do outono.

Papa-amoras

Para além destas aves de menor dimensão, existem também outras aves que podem ser encontradas neste território especialmente nesta altura. Outra das aves que é especialmente característica nas Aldeias de Montanha da Serra da Estrela, um dos melhores locais para a observar, é o Bútio-vespeiro, outra ave também de hábitos muito discretos e ligeiramente maior que o Bútio-comum. Pode ocorrer numa enorme variedade de colorações, entre tonalidades bem escuras e outras mais claras, mantendo o padrão cinzento na cabeça, barras no peito e nas asas e ainda “punhos pretos” naquelas que são mais claras. Esta ave é vulnerável em Portugal e chega bastante tarde, sendo que as melhores alturas para a observar vão de maio ao final de setembro, quando sai mais das suas áreas de reprodução.

Bútio-vespeiro

Por último, falamos-lhe do Melro-das-rochas, uma espécie muito característica das regiões de montanha e portanto um dos ex-libris da observação de aves nas Aldeias de Montanha durante a primavera. O macho é muito fácil de identificar, já que tem a cabeça e o dorso em azul, com o ventre e a cauda alaranjados e ainda uma mancha branca no dorso muito característica. A fêmea tem menos contrastes nos tons da plumagem, sendo por isso mais difícil de identificar. Quanto aos locais onde os ver, é, como o nome indica, mais comum ver este melro em sítios bem altos, como no topo de rochas, onde constrói os seus ninhos. É uma espécie em perigo em Portugal e nidifica maioritariamente nas zonas de maior altitude das serras do Centro do país e também na região mais a norte. Sendo estival, costuma chegar em abril e regressar a territórios mais quentes em setembro.

Melro-das-rochas

 

Ficou com vontade de observar estas e muitas outras espécies que visitam as Aldeias de Montanha nesta estação do ano? Venha visitar-nos, traga roupas confortáveis e venha munido de binóculos (e máquina fotográfica se pretender registar as suas observações). Se pretender ajuda na identificação de espécies, saiba ainda que existem diversos guias de aves muito bons, tanto em livro como online, que pode trazer consigo para tornar a experiência ainda mais enriquecedora. Além disso, pode instalar a aplicação eBird e registar o que vir e identificar para ajudar a comunidade científica e apaixonada por este mundo.

Ficamos à sua espera, nas Aldeias de Montanha!