Continuamos com a nossa série de conversas curtas com os coworkers que trabalham a partir da rede de coworks rurais Cooperativa Cowork das Aldeias de Montanha.

Os espaços de trabalho de Videmonte (Guarda), Alvoco das Várzeas (Oliveira do Hospital) e Lapa dos Dinheiros (Seia) foram inaugurados em Outubro, na presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e estão a ganhar tração junto da comunidade nómada digital.

Estejam atentos à abertura, para breve, do cowork de Alpedrinha, no Fundão.

Nada melhor e mais entusiasmante do que o relato de quem visitou e se instalou para trabalhar a partir destes locais – e aproveitamos sempre para ouvir as suas sugestões de boas práticas para viver, de forma plena, interessante e saudável, o contexto e as especificidades do trabalho remoto.

A conversa de hoje é com Gonçalo Hall, CEO da NomadX, na c

Cowork em Seia, na aldeia de Lapa dos Dinheiros

Cowork em Seia, na aldeia de Lapa dos Dinheiros

Como surgiu o teu interesse pelo trabalho remoto, ao ponto de ser a tua área profissional e também o teu formato de trabalho?

Descobri primeiro o nomadismo digital há mais de 8 anos, quando estudava e morava em Aveiro. Eu sempre fui nómada, estudei em sete escolas, três universidades e aos 23 já tinha morado em Lisboa, Oeiras, Porto, Algarve e Aveiro, sempre por escolha própria.

O trabalho remoto aparece como a solução perfeita para atingir a liberdade de localização que eu procurava. Assim que descobri o nomadismo digital, entrei em modo de investigação e passei meses a ler sobre trabalho remoto, a compreender que empresas o faziam e como, quais as melhores estruturas, vantagens, desafios, e, claro, como adaptar o trabalho remoto ao nomadismo digital.

Mais tarde, descobri que o trabalho remoto é também a ferramenta perfeita para possibilitar muito mais que o nomadismo digital, serve para projetos de re-população, para reduzir a emigração económica, para reeducar e manter a população ativa no território. Decidi então dedicar a minha vida à promoção do trabalho remoto e nomadismo digital, primeiro com empresas e pessoas (Remote Europe, Remote Portugal, Remote Work Movement), e depois com governos (Governo Regional da Madeira, Cabo Verde e mais novidades em breve).

 

O que é, para ti, o mais interessante no trabalho remoto? E o mais difícil?

O mais interessante é a liberdade de escolha que possibilita, quer seja de localização como de horários e estilo de vida. Podemos viver na Madeira, em Manteigas ou em Álvoco das Várzeas e ter acesso a um mercado global com oportunidades nas maiores empresas do mundo, enquanto vivemos no sítio que nos faz felizes.

O maior desafio ainda é a educação dos gestores, mudar de um paradigma em que o escritório está no centro do trabalho, para um paradigma em que o centro do trabalho é distribuído, requer adaptações na forma como as empresas trabalham como a adoção da comunicação assíncrona, a criação de documentação e a gestão por objetivos. As empresas não foram pensadas neste paradigma e não sabem, muitas vezes, gerir equipas remotas.

 

Alguns conselhos para quem se está a interessar por este tipo de vida profissional – o que esperas e procuras no teu empregador, e boas práticas que recomendes, no que toca a gestão de tempo, saúde física e mental, rotinas, conexões.

O trabalho remoto é o novo normal, o que define hoje em dia uma boa empresa para trabalhar é, além de trabalhar remotamente, comunicar de forma assíncrona e ser “people centric”. Os nómadas digitais e muitos trabalhadores remotos já só aceitam trabalhar de forma assíncrona porque implica a redução do número de chamadas e aumenta a qualidade e tempo de trabalho focado.

Em relação a boas práticas, sugiro ter um espaço de trabalho separado do resto da casa, de preferência um espaço de cowork. Trabalho remoto não é sinónimo de isolamento, eu só trabalho de espaços de Coworking. Além disso, é importante criar regras: eu faço a maioria das minhas chamadas em pé ou a caminhar para estar mais ativo, faço pausas frequentes para beber água, exercícios de mobilidade. Acima de tudo é importante manter uma vida social ativa, combinando trabalhar em espaços de cowork com amigos, ir beber um café ou cerveja no final do dia de trabalho com os vizinhos de secretária.

Gonçalo Hall, nómada digital, no cowork Aldeias de Montanha

Em quantos sítios/países já trabalhaste?

Não sigo o número de países que visitei, estive um ano na Ásia e dois na Europa. Viajo de forma lenta e fico entre um a cinco meses em cada local. Devo ter trabalhado de mais de 30 locais!

 

Essa inquietude faz parte da tua natureza, é algo que procuras ativamente ou também te agrada alguma constância e permanência num sítio que te pareça aprazível? É algo que buscas ou “apenas” uma vantagem que a tua atividade profissional oferece?

Como nómada, adoro viver e experenciar diversos locais, quer seja a experiência hindu de Bali, a cultura africana de Cabo Verde ou a natureza e autenticidade da Serra da Estrela. Estas experiências enriquecem-me e ajudam-me a ser mais criativo como empreendedor. Eu sempre fui curioso, quando viajava por uns dias para algum sítio, perguntava-me como seria viver ali, como seria viver como um local, e hoje em dia, como nómada, é exatamente isso que faço.

Neste momento, o meu limite no mesmo local são cinco meses, o que é uma eternidade. Adoro assentar durante esse tempo e viajar de forma mais ativa nos meses restantes. Esta combinação proporciona-me uma boa dinâmica e permite que experimente alguma estabilidade, desfrute dos locais que adoro com mais tempo, e crie relações pessoais mais fortes, sem perder a liberdade para explorar o mundo e beber do conhecimento e experiências nas diferentes culturas que visito.

A verdade é que, como empreendedor e agora líder de um movimento, ser nómada traz-me uma enorme vantagem competitiva por poder experenciar o que de melhor se faz no mundo, de uma forma mais intensa e profunda, do que alguém que não tenha este estilo de vida.

Cowork na Serra da Estrela, em Videmonte

Cowork em Seia, na aldeia de Lapa dos Dinheiros

Como descobriste a rede cowork Aldeias de Montanha?

Estou muito atento a todos os bons projetos de Coworking e Coliving em Portugal, em especial os que se encontram no interior e são diferenciados em termos de qualidade. Os espaços das Aldeias de Montanha despertaram o meu interesse por se encontrarem em aldeias do interior, o que se enquadra na minha visão do futuro do trabalho e dos sítios onde vamos viver.

As aldeias são centros de comunidade naturais que oferecem uma elevada qualidade de vida e conexões locais mais fortes. Os espaços de Coworking são essenciais para termos mais pessoas a trabalhar e viver na aldeias. Mal vi o projeto, soube que tinha que visitar e conhecer melhor as ideias e objetivos do mesmo.

 

E que tal a experiência de trabalho remoto num local igualmente remoto?

Tive a sorte de estar e trabalhar nos três espaços de coworking das Aldeias de Montanha e que oferecem experiências muito diferentes, todas elas positivas.

Estar no cowork de Videmonte com a lareira ligada a trabalhar numa casa típica mesmo no centro da aldeia foi incrível, toda a natureza circundante e os habitantes locais que são de uma simpatia extrema fizeram desta experiência um momento inesquecível.

No cowork da Lapa dos Dinheiros, onde o espaço é maior e com áreas exteriores muito simpáticas, estar sentado no sofá ao sol a ver a paisagem da serra e ter diversas áreas para trabalhar dentro do mesmo espaço, ajudam-me muito na parte criativa do meu trabalho.

Alvoco das Várzeas é uma aldeia linda, e o espaço de cowork acolhedor fica mesmo em frente à junta de freguesia, a cinco minutos do rio e da praia fluvial, perfeitos para uma pausa no trabalho, um café ou apenas inspiração.

A experiência foi muito positiva, adorei trabalhar a partir destes locais, quero voltar e ficar mais tempo em cada um deles, trazer mais pessoas comigo e desfrutar do melhor que as aldeias em Portugal têm para nos oferecer.

 

O Gonçalo Hall passou pelos três coworks ativos do projeto Cooperativa Co-work Aldeias de Montanha. Agendem a vossa visita também!