Em Setembro começámos a falar sobre um dos projectos principais da ADIRAM, a rede de co-works rurais Cooperativa Cowork das Aldeias de Montanha.
Os espaços de trabalho de Videmonte (Guarda), Alvoco das Várzeas (Oliveira do Hospital) e Lapa dos Dinheiros (Seia) foram inaugurados em Outubro, na presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e, podemos afirmar de forma muito clara, que são uma aposta de sucesso.
Segue-se a abertura, para breve, do co-work de Alpedrinha, no Fundão.
Novas dinâmicas locais
Os espaços de co-work têm sido ocupados de formas diferentes, o que espelha a variedade de valências agregadoras no seu contexto tão específico, e disso falámos na newsletter de Novembro. Nesta edição, a Associação Alvoco a Recordar, o Movimento Estrela Viva, a Andreia Proença, a Francisca Fonseca e o Pedro Baldaia partilharam o seu entusiasmo e experiência de trabalho nos novos espaços.
Da aldeia para o mundo, o mundo na aldeia
Hoje conversamos com a Andreia Proença, que estreou o co-work de Videmonte.
Já falámos sobre a Andreia a propósito do trabalho remoto, e a sua história, que espelha tão bem o movimento do teletrabalho que temos observado, tem sido notícia aqui e ali, incluíndo uma passagem pela RTP1 há umas semanas, com visita guiada e tudo!
A viver no Porto quando a pandemia e os sucessivos confinamentos nos entraram pela vida a dentro, a Andreia recolheu à casa da família, em Videmonte. A empresa onde trabalha oferece a opção de trabalho remoto e, o que foi um cenário de recurso temporário, passou a quotidiano profissional permanente, de forma natural e com muitas vantagens.
É sobre isso que falamos, nesta curta conversa: estratégias para gerir o trabalho remoto e como viver o mundo a partir da aldeia.
O trabalho remoto pode ser solitário, como encontras escape para as muitas horas de ecrã? Qual é a tua rotina de trabalho?
Sim, o trabalho remoto pode ser solitário. Sou gestora de produto, estou a maior parte do tempo em reunião e, por isso, tenho muito contacto com pessoas, mas sempre através da câmera. Como escape, faço exercício: yoga e exercícios funcionais, com cardio, fundamental para mente e corpo ativo, quando estou oito horas sentada.
A meio da semana, por vezes, tento ter uma atividade cultural: música, cinema, teatro. Tento também combinar um jantar com amigos mais próximos. Por vezes vou presencialmente ao escritório. Pausas e alongamentos durante o dia, são importantes, mas não cumpro a regra à risca. A cereja no topo do bolo, para rematar este ponto, seria ter mais pessoas e de forma frequentemente no espaço co-work, para que as pausas tenham outra qualidade.
Quais são, para ti, as boas práticas ou os melhores conselhos para gerir o trabalho remoto, em termos de foco, responsabilidade (por estarmos fisicamente sozinhos) e até de pausas?
Passa um pouco por aquilo que pratico, e diria não muito diferente de trabalhos presenciais: exercício, é mesmo muito importante. Ter atividades fora do trabalho e/ou com outras pessoas, porque o confronto e conhecimento de outras realidades são ferramentas para pormos tudo em perspetiva.
Não exceder o horário de trabalho é crucial para este equilíbrio!
Durante o próprio trabalho, uma pausa a meio da manhã e da tarde são mesmo importantes. Manter uma garrafa de água à beira, é um bom truque para a beber!
O que te dá a vida na aldeia? Como – e com o quê – alimentas a tua curiosidade natural?
Não considero que seja só a aldeia a dar-me o que procuro, mas toda a envolvente. Para além da família e amigos, consigo ter acesso a diferentes eventos culturais (como o Teatro Municipal da Guarda, o Teatro Municipal da Covilhã, e os teatros e salas dos concelhos circundantes, etc.).
O contacto com a natureza, de forma autónoma ou através de eventos organizados é algo que aprecio e posso desfrutar neste contexto.
Consigo conhecer pessoas e realidades distintas e discutir diferentes pontos de vista, tenho um perfil mais extrovertido e puxo por essas conversas e aprendizagens.
Recentemente, entrei num projeto – Rural Move – cuja missão é criar condições para que as comunidades rurais promovam a regeneração humana, económica e demográfica do seu território.
E há oportunidades de voluntariado aqui na aldeia, ligadas aos mais velhos, que são uma outra forma de ajudar a comunidade.
És uma pessoa do mundo (e com mundo), a partir da tua aldeia – uma ideia muito interessante e que, provavelmente à primeira vista, pode parecer impossível de coexistir. Onde – ou como – encontras esse equilíbrio?
Estou a duas horas de viagem do Porto, o que me permite ter acesso a eventos que não ocorram aqui. Estou também a duas horas de distância do aeroporto, o que me permite viajar de forma frequente!
A internet e os meios de comunicação permitem-nos ter acesso a compras como se estivéssemos na avenida principal de uma grande cidade, ou acesso aos livros e conteúdos que só se discutiriam em círculos fechados.
Sugere-nos um mini-roteiro para fazer com os amigos: onde comer, o que visitar, o que trazer?
Em Videmonte, diria a Quinta da Taberna (e a praia fluvial perto), a Rota da Cabeça Alta (PR2 GRD) com o ponto mais alto do concelho da Guarda com uma vista de 360º incrível, e passear pela própria aldeia e visitar as suas ruas.
Há trails e rotas marcadas com paisagens bem características da Serra e os Passadiços do Mondego também terão aqui o seu início/fim e abrirão em breve.
Podem também visitar artesãos: o meu pai, que todas as sextas feiras faz pão de centeio e biscoitos em forno de lenha e assim criou o nosso pequeno negócio familiar (Vim do Monte), visitar pastores e produtores de queijo Serra da Estrela é também uma opção.
Além destes petiscos, haverá um restaurante que abrirá em breve, no centro da aldeia.
E temos sempre outras regiões do parque da Serra muito boas para visitar: Seia, Manteigas, etc..
Partilha connosco um segredo bem guardado ou algo favorito?
A Quinta da Taberna, uma mini-aldeia já deserta, com inscrições dos mais antigos nas pedras que formam as casas. E como está num cume, tem uma envolvente incrível!
A Andreia está instalada no co-work de Videmonte. Podem conhecer este e os outros espaços em detalhe no site da Cooperativa Co-work Aldeias de Montanha, e agendar a vossa visita. A vossa companhia será muito bem-vinda!
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