Fechamos 2021 com uma entrevista a Francisco Rolo, presidente da ADIRAM (Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de Montanha), que nos conta em detalhe porque e como tudo acontece nas Aldeias de Montanha. Achámos que era uma excelente forma de rematar estes seis meses de publicações em que falámos um pouco de tudo!

O novo ano está mesmo ao virar da esquina e estaremos por aqui para partilhar convosco os assuntos e projectos que nos entusiasmam no coração da Serra da Estrela.

Obrigado pela vossa companhia!

 

presidente da ADIRAM, José Francisco Rolo

A ADIRAM foi criada em 2013. Quais os objetivos inerentes à sua criação?

O projeto-piloto começou, numa primeira fase, apenas com aldeias do Município de Seia, mas agora na fase de alargamento da rede Aldeias de Montanha,  conseguimos abraçar aldeias de todos os concelhos que integram o Parque Natural da Serra da Estrela, e também de outros concelhos com forte ligação identitária, nomeadamente o Fundão, Fornos de Algodres e Oliveira do Hospital. Hoje somamos 41 aldeias, em nove municípios.

A ADIRAM tem como principais objetivos a promoção do desenvolvimento turístico e integrado da Rede das Aldeias de Montanha, através da adoção de uma postura sustentável, integrada, inovadora e criativa. 

A nossa atividade está focada em quatro eixos principais:

  • a promoção e execução de projetos turísticos, sempre com o envolvimento da comunidade e agentes locais, capazes de contribuir para a dinamização da Rede de Aldeias de Montanha e da sua própria capacitação;
  • o fomento e apoio à criação de novas dinâmicas nas Aldeias, como a primeira rede de coworking rural em Portugal, a Cooperativa Cowork @Aldeias de Montanha. É um projeto-piloto que valoriza os setores tradicionais, incorporando conceitos de design, sustentabilidade e economia circular, criando vantagens competitivas e diferenciadoras, capazes de aportar notoriedade às Aldeias e atrair nómadas digitais para experiências de trabalho em contexto de aldeia;
  • a valorização da paisagem natural e ambiental e do património cultural material e imaterial das Aldeias de Montanha como referência na afirmação da identidade do território da serra da Estrela;
  • a mediação, como entidade geradora de consensos e aproximação de interesses com vista ao desenvolvimento da Rede das Aldeias de Montanha enquanto produto turístico e enquanto projeto de desenvolvimento local, comunitário e inclusivo.

 

Como presidente da ADIRAM, qual é o grande desafio desta Rede de Aldeias?

A ADIRAM, entidade que gere a rede a uma escala supramunicipal (e à qual tenho o privilégio de presidir), deve potenciar o desenvolvimento de sinergias promovendo ligações entre as partes direta ou indiretamente interessadas no projeto, sejam elas a partir de dentro ou fora do território.

O projeto Aldeias de Montanha deve distinguir-se pela criação de redes de cooperação que fomentem lógicas de “coopetição”, onde o todo é mais eficiente que a soma das partes.

As autarquias locais da serra da Estrela têm aqui especiais responsabilidades, tal como os agentes locais de natureza privada ou associativa, cabendo-lhes o desafio de inovar e desenvolver uma gama – sólida, competitiva e alargada – de produtos e serviços de “Aldeias de Montanha” , com forte potencial de penetração nos mercados.

E juntos, tenho a certeza, conseguiremos alicerçar e projetar uma Rede de Aldeias de Montanha forte e coesa. Na prática, o grande desafio desta Rede é a criação de uma identidade supramunicipal e a marca “Aldeias de Montanha”, alicerçada no vasto território das Serras da Estrela e Gardunha.

 

Aldeia de Montanha de Figueiró da Granja

Quais as características transversais das aldeias que pertencem à rede de Aldeias de Montanha?

As Aldeias de Montanha que integram a rede partilham a identidade de montanha.

É a Serra da Estrela e a sua geografia que condicionam a dimensão vivencial que reflete as heranças do passado, as vivências de hoje e as expectativas de futuro das comunidades “serranas”.

Esta identidade é reforçada pela partilha de valores culturais semelhantes entre as aldeias, expressa em patrimónios, costumes e tradições, que as comunidades locais tão bem têm conseguido valorizar ao longo dos tempos. A ADIRAM deverá ser capaz de a potenciar, construindo uma marca inovadora que se traduza num novo olhar sobre a serra da Estrela, promovendo a preservação, o desenvolvimento e a experiência das tradições, da cultura, do saber fazer e de uma beleza natural inigualável.

Esta marca deve projetar uma reflexão e ação para a mudança de comportamentos, mentalidades e formas de estar, para um aproveitamento sustentável e integrado de todos os recursos, materiais e imateriais, e oportunidades. Uma marca que preserva história e conhecimento passado e agrega e desenvolve a tecnologia e o conhecimento futuro, através do contacto entre gerações na criação de uma experiência global envolvente, verdadeira, distintiva e memorável.

 

Aldeia de Montanha de Figueiró da Granja

Qual a importância da promoção integrada das aldeias de montanha?

A identidade Aldeias de Montanha é mais do que o somatório dos aspetos simbólicos de cada uma destas aldeias. Traduz-se numa síntese de um processo identitário próprio, que soma e alavanca os valores diferenciadores do imaginário coletivo da Montanha que associamos à serra da Estrela. Esta identidade deve ser vista como uma oportunidade para a transformação do território em torno de um símbolo forte e coeso, capaz de posicionar a marca Aldeias de Montanha enquanto produto turístico de referência e de criar vantagens competitivas e diferenciadoras, que certamente irão acrescentar valor à região.

 

Aldeia de Montanha de Figueiró da Granja

O projeto Aldeias de Montanha pode ser uma mais valia para contrariar a tendências de envelhecimento e abandono das aldeias?

O turismo é uma atividade, que em complemento com outras nomeadamente as que se referem à inovação social, valorização do setor primário, das suas práticas e dos seus produtos e à reabilitação urbana, constitui um instrumento fortíssimo para inverter as tendências de envelhecimento e abandono das aldeias.  

As Aldeias de Montanha são uma oportunidade para diversificar a oferta turística das Serras da Estrela e Gardunha e alavancar um posicionamento mais afirmativo de uma nova ambição de desenvolvimento económico-social. Isto traduz-se na melhoria das condições de vida daqueles que ainda habitam nas aldeias, na atração de mais visitantes e, também, de novos residentes e investimento. É imperativo que este projeto seja assumido, pelos agentes públicos e privados e comunidades locais, como o embrião de uma proposta turística com caráter transversal ao território. E por esta razão a ADIRAM integra nos seus corpos sociais, não só os municípios, mas representantes das comunidades locais e do setor empresarial local.  

Outro aspeto positivo deste projeto, e não menos importantes, é o efeito gerado na auto-estima e sentido de pertença das populações residentes e da sua diáspora. É com enorme satisfação que constatamos uma maior valorização das vivências e costumes destas aldeias – o principal valor acrescentado do produto “Aldeias de Montanha”.