A rede de Aldeias de Montanha reúne 41 aldeias, distribuídas entre o Parque Natural da Serra da Estrela e áreas adjacentes e a Paisagem Protegida da Serra da Gardunha, integrando 9 concelhos (Covilhã, Seia, Guarda, Manteigas, Celorico da Beira, Oliveira do Hospital, Gouveia, Fundão e Fornos de Algodres).
Vamos percorrê-los um a um e começamos com um convite para uma visita ao concelho de Celorico da Beira.
Celorico da Beira é a capital do queijo da serra, ou não fosse a região com mais rebanhos de ovelhas da raça Bordaleira Serra da Estrela e Churra Mondegueira. Neste concelho vamos encontrar cinco Aldeias de Montanha: Rapa, Prados, Cadafaz, Salgueirais e Vide Entre Vinhas.
Rapa, uma aldeia de Montanha
Comecemos então esta visita guiada pela aldeia de Rapa.
Esta é uma aldeia vibrante, ligada à tradição e em comunhão com a natureza. Situada na vertente norte da Serra da Estrela, é uma terra fortemente ligada ao teatro, uma herança deixada pela poetisa Maria José Furtado Mendonça (nascida na Rapa), e continuada por muitos rapenses aficionados das artes performativas, fixada no brasão da União de Freguesias de Rapa e Cadafaz. Na figura heráldica – inspirada no brasão da extinta freguesia de Rapa – brilham duas máscaras de teatro, uma vermelha e outra preta.
A unir Rapa e a aldeia vizinha de Cadafaz, agora parte da mesma freguesia, estão, precisamente, os trilhos específicos de Enduro/BTT que constituem o BikePark Cadafaz Rapa.
No entanto, há agitação e movida para além do desporto e da cultura. O setor primário tem nesta aldeia um papel de destaque: com oliveiras e rebanhos a compor a paisagem, bom azeite e delicioso queijo são produtos de destaque local.
E, claro, há sempre a belíssima paisagem natural, seja em que estação for: a a floresta de soutos na Serra da Lomba, os Baloiços e Miradouro da Rapa ou o Espaço Museológico dos Moinhos de Água são algumas sugestões.
Prados, Aldeia de Montanha
Chegamos a Prados.
Aqui há que subir até à Penha dos Prados, a 1134 metros de altitude. Deste alto, avistamos sete castelos por entre a interminável mancha de floresta. Mais escondido, encontra-se o oitavo e mais próximo geograficamente – Linhares, o vizinho do lado.
Ilusoriamente próxima do que está longe e inevitavelmente distante de quem está mesmo ali ao lado, a população de Prados viveu isolada nas encostas da serra, gozando de uma reputação pouco recomendável: dizia-se que o povo, preso numa aldeia fortificada, era ávido de conflito e violência e alheio à civilização e ao progresso. Facto ou imaginação, não saberemos, mas garantimos que é com genuína hospitalidade que cada visitante é recebido nos dias de hoje!
Com uma cultura que assenta nas atividades rurais, é um território rico em tradições orais como a encomendação das almas, que vai passando de boca em boca, através das gerações.
Não menos interessantes são as figuras de madeira retratadas pelo mestre Marques, que com o seu canivete e plaina, recria na madeira as cenas do quotidiano beirão que povoam o seu imaginário.
O queijo da serra e a floresta são as riquezas locais. Prados é a freguesia do concelho que mais área florestal possui, quer arborizada, quer para arborizar, e, graças à especificidade geográfica, com solos férteis e abundância de água, proporciona-nos, nos seus planaltos, verdadeiros mantos verdejantes e floridos.
Não deixem de visitar a Microreserva de Prados, a Casa do Mundo Rural, o Miradouro do Lugar da Penha, o Souto de Prados, de que vos falámos na semana passada, e, com tempo, explorar a Rota dos Soutos, perfeita nesta altura do ano.
Cadafaz, Aldeia de Montanha
Cadafaz é a terceira Aldeia de Montanha na nossa lista de Celorico da Beira.
Uma das melhores formas de explorar os caminhos desafiantes e a natureza verdejante desta terra de agricultores e pastores será, provavelmente, à boleia de uma bicicleta. Cadafaz distingue-se pelos seis trilhos específicos de Enduro/BTT (num total de 15 km), que integram a Rede de Caminhos de Montanha Cicláveis, e que constituem o BikePark Cadafaz Rapa, palco de provas frequentes da modalidade.
A não perder, o circuito de pedestre pelos castanheiros centenários: enveredar por este caminho, com uma riqueza natural, é uma autêntica experiência para qualquer visitante. Basta seguir o trilho, sempre acompanhado por pequenas levadas e belíssimos castanheiros centenários, com uma vista panorâmica sobre Cadafaz.
Salgueirais, Aldeia de Montanha
Segue-se, quase a terminar, a aldeia de Salgueirais, cujo nome veio, claro, da abundância de salgueiros no território. Hoje em dia a vasta mancha florestal é feita maioritariamente de castanheiros e pinheiros, mas são as oliveiras um dos principais fatores económicos da região.
Aqui, começamos a visita pela Escola-Museu de Salgueirais, uma antiga escola primária onde se recria a apresentação, mobiliário e materiais do modelo do Estado Novo. A seguir, mergulhamos na paisagem, sempre bela: a barragem ou o bosque de Carvalho-Negral de Assenhas, também na nossa lista de paisagens de outono a não perder.
Vide Entre Vinhas, Aldeia de Montanha
“O vento trouxe gafanhotos. Cobriram a terra duma ponta a outra, e era uma praga tal que nunca se viu coisa assim, nem depois se tornou a ver. Comeram a vegetação que ainda ficou da saraiva. Não se ficou a ver nem um pedaço de verde, nem de plantas nem de árvores”.
Tal como na Bíblia, terá sido assim, em Vide Entre Vinhas. A aldeia foi castigada com uma nuvem de insetos que dizimou as colheitas e os campos. Sem explicação para tal – apenas Vide Entre Vinhas foi afetada – a população não teve alternativa senão arregaçar mangas, recomeçar e rezar para que tal não se repetisse. Assim nasceu a festa de Nossa Senhora dos Verdes, que acontece em fevereiro. Sob proteção divina, os campos voltaram a florescer e Vide Entre Vinhas reafirmou-se com uma economia centrada na terra, produzindo vinho, batata, feijão, cebola e queijo de produção artesanal.
Para observar a paisagem até onde a vista alcança, recomendamos a subida ao Penedo do Bico, Penedo Gordo ou à Pedra do Casamento, local de romaria das raparigas solteiras: para conhecer a sua sorte, as moças casadoiras atiravam uma pedra para o cimo do penedo. Ficando, casavam, caindo, solteiras seria a sua sorte.
Quem se arrisca?
Subimos à serra?
Há sempre um fio condutor nestes passeio à descoberta do território: a beleza da paisagem, a produção de azeite e queijo da serra e a genuinidade de quem lá vive e vos recebe.
Precisam de mais argumentos para subir até à serra?
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