Trabalho remoto poderia ser a dupla de palavras eleita para ilustrar o último ano.
Se começou por ser uma ferramenta necessária e um formato obrigatório em tempos de confinamento, o facto é que passados todos estes meses, o paradigma mudou e tudo aponta para um futuro que as empresas e trabalhadores, devidamente re-organizados, irão abraçar.
Teletrabalho significa que trabalhamos fisicamente ausentes da empresa, de forma digital. Esta aceleração brusca, ainda que bastante bem recebida, tem alguma área cinzenta para apurar no que toca à legislação sobre o trabalho, direitos, deveres e responsabilidades e na relação trabalhador-empregador: é muito interessante a conversa entre o jornalista Fernando Alves e o sociólogo Paulo Pedroso, a propósito do futuro do trabalho na revolução digital.
Estas novas formas de trabalhar – e muitas empresas nacionais e internacionais têm convergido com uma maior flexibilidade para os trabalhadores através do trabalho remoto-, trazem alguns atrativos de peso. Se até agora o trabalho em casa (ou a partir de um qualquer local à escolha) parecia privilégio dos trabalhadores freelance ou dos empresários individuais, o horizonte está aberto para todos.
Teletrabalho não tem que ser em casa
Uma fatia grande da população trabalhadora foi empurrada para este novo formato, mas a tribo nómada digital já estava instalada entre nós há uns bons anos, em busca de uma vida mais plena e inspiradora, um outro equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e um estilo de vida com uma liberdade diferente, que abraça a sua alma de viajante.
Trabalhar de forma remota ou alternativa aos escritórios tradicionais é hoje algo bastante normalizado, ao ponto do nomadismo digital passar a ser percepcionado também como um produto turístico.
O Turismo Centro de Portugal e o Estúdio Tipo-Grafia acabam de lançar o site Work From Centro de Portugal, onde listam coworks, centros de inovação, incubadoras, centros de negócios, espaços colaborativos (e muitas outras valências afins), e contam as histórias dos seus protagonistas.
Carlos Bernardo, autor do projecto, afirma, numa entrevista ao Observador: “É neste quase infinito de possibilidades que o conceito de trabalho remoto se cruza com os territórios e consequentemente com o conceito de turismo. As escolhas sobre o lugar de trabalho são feitas em função do que o lugar pode oferecer. Foi a pensar na estruturação dessas oportunidades que surgiu o Work From Centro de Portugal”.
Trabalhar num cowork
Quando se coloca a questão de regressarmos ao escritório ou abraçarmos o teletrabalho, trabalho remoto, trabalho em casa ou trabalho a partir de casa (nas suas várias e aproximadas definições), encontramos muitos pontos fortes.
A viagem de ida e volta, o trânsito, o stress e a distância são dois pontos de pressão e desconforto fortíssimos, a começar e fechar o dia – deixamos tempo e trazemos desgaste. A rotina e o ambiente sempre igual, mais ou menos confortável, mas estanque e pouco personalizado, desgastam a imaginação, o entusiasmo e também o foco e a produtividade. A falta de autonomia e responsabilização individual são travões ao crescimento e à excelência.
Quando fazemos esta mudança para o teletrabalho, estamos a remover muitos destes pontos de pressão.
O trabalho remoto pode acontecer em casa, criando condições específicas para tal: um espaço (ou recanto) dedicado, uma rotina e um horário próprios (que separam o tempo e o espaço de trabalho e de lazer), equipamento adequado (da cadeira ergonómica à velocidade da ligação digital) e interacção humana quanto baste, porque pode ser um processo muito solitário.
Uma excelente opção, sobretudo para quem não consegue reunir este conjunto de premissas em casa, é um cowork: um espaço partilhado com outras pessoas, devidamente equipado para trabalhar remotamente.
A partir daqui, podemos trabalhar do posto mais remoto para qualquer parte do mundo!
Coworking nas Aldeias de Montanha
Os espaços Cooperativa Cowork das Aldeias de Montanha são os primeiros espaços de coworking rural em Portugal: modernos, inusitados e inspiradores, localizados em ambiente rural e em plena harmonia com a natureza.
Apostando fortemente nos conceitos de economia circular, design e Km0, todos os equipamentos e elementos decorativos resultam da atualização de equipamentos em fim de ciclo e são produzidos localmente, privilegiando os recursos existentes e envolvendo os artesãos, microempresas e comunidades locais.
Estão projectados três coworks para as Aldeias de Montanha: Lapa dos Dinheiros, em Seia, Videmonte, na Guarda, e Alvoco das Várzeas, em Oliveira do Hospital.
De Videmonte para a Farfetch
A primeira cliente do cowork de Videmonte será, certamente, a Andreia Proença, que aguarda a sua abertura, ainda este mês. De Videmonte, estudou no Porto, onde ficou a viver e a trabalhar. Com a pandemia, regressou à tranquilidade da aldeia e a casa dos pais. É gestora de produto na Farfetch, fazendo a ponte entre as equipas de desenvolvimento e os interesses específicos do cliente.
Este regresso a casa parece estar para ficar: o digital proporciona um mundo de possibilidades interessantes, a empresa para quem trabalha está alinhada com todo o conceito de trabalho remoto e, para combater o isolamento e recuperar a sua autonomia de jovem adulta, prepara-se para mudar de casa e se instalar, profissionalmente, no cowork de Videmonte. Neste novo rotina, sobra tempo para as aulas de yoga, passeios ao fim do dia, suporte ao pequeno negócio do pai e aprender a tricotar, com uma vizinha da aldeia.
Sem saber o que o futuro trará, o equilíbrio que encontrou aqui, durante estes meses, revela-se entusiasmante!
Imagem via Work from Centro de Portugal.
Bom dia
Apenas para vos dar os parabéns por este tipo de iniciativas, a favor do interior e, particularmente, das Aldeias de Montanha.
Pelo que constato, do vosso lado está uma equipa dinâmica, competente, que contagia.
Força. Continuem.
Obrigado