À Escuta: catálogo poético é um projeto de criação artística concebido por Joana Sá (pianista e compositora) e Luís J. Martins (guitarrista e compositor) para, e com, a pequena aldeia de Frádigas — Vide, que decorreu na semana passada, entre 3 e 6 de Setembro.
Realizado em colaboração com a comunidade local, com o coletivo italiano Camposaz, o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), o Geopark Estrela, o Movimento Estrela Viva (MEV) e ainda com a ADIRAM – Associação para o Desenvolvimento Integrado da Rede das Aldeias de
Montanha, este projeto apresentou um conjunto de actividades, instalações e performances interdisciplinares – musicais, sonoras, arquitetónicas, visuais – na aldeia de Frádigas e a sua envolvente.
Partindo de uma noção de escuta e enquanto proposta de relacionamento entre a comunidade local, a comunidade científica, os movimentos cívicos da região e os artistas, este “catálogo poético” de instalações artísticas e performances faz um convite à exploração da aldeia e do Parque Natural da Serra da Estrela, propondo diferentes experiências do território.
O conjunto de intervenções criadas, ainda que dispersas pelo território da aldeia, relacionam-se e ressoam entre si, procurando captar à distância a escuta e o olhar atentos e curiosos dos espectadores.
As actividades, que incluiram a criação de novos percursos pedestres e passeios interpretativos com o CISE e o Geopark Estrela, um encontro de associações locais e um mercado de produtores locais, e os processos artísticos criados, com as instalações artísticas e performances musicais, procuram trazer para o centro da discussão a reflexão sobre o futuro deste território no “interior do interior”. A pequena aldeia de Frádigas tem 16 habitantes e, como tantas outras de geografia e contexto semelhantes, enfrenta graves problemas de desertificação, isolamento, incêndios florestais, alterações climáticas e envelhecimento.
A ADIRAM, no âmbito da Plataforma O Lugar, pensada para ser um ponto de encontro entre projetos das comunidades que precisam de financiamento ou apoio material e empresas, particulares ou entidades interessadas em contribuir, foi um dos parceiros deste evento tão especial, através de duas acções chave.
No dia 6, a sessão de co-criação “Pensar a Escola. Fazer o Futuro” juntou a investigadora Ana Melo, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, os seus alunos de mestrado de Design, integrados
numa investigação de doutoramento sobre o design para a inovação social e a sua aplicação nos desafios dos territórios de baixa densidade, a comunidade de Frádigas, o grupo Pensar as Frádigas e a equipa da Rede de Aldeias
de Montanha.
Num ambiente informal, de forma colaborativa e utilizando metodologias próprias da disciplina de design thinking, este vasto grupo de participantes pensou e prototipou ideias para o espaço da Escola da aldeia, encerrada em 1988 e em estado de abandono.
Os resultados desta sessão serão depois trabalhados com vista à integração da revitalização da Escola de Frádigas como projeto piloto na Plataforma O Lugar.
Também integrado na programação, está planeado um mural, subordinado ao tema “Pensar o futuro do território das Aldeias de Montanha”.
Este mural, localizado no Largo da Fonte, apelará à contribuição da comunidade e visitantes, convidando-os a fazer um exercício de imaginação: como serão estas aldeias no futuro? Que projetos podemos nós acionar para concretizar esses cenários?
A vontade das comunidades é o primeiro passo para fazer acontecer e este mural será um retrato desta mesma voz coletiva.
Estes foram, claramente, dias mágicos!
Os artistas criadores têm ligações familiares e afetivas à pequena aldeia de Frádigas, como contam nesta entrevista ao jornal Observador, e o programa que desenvolveram é o resultado de longos meses de residências artísticas locais.
Não deixem de passar os olhos pelo belíssimo catálogo do evento onde vão descobrir pequenas histórias locais, factos científicos, notas sobre a fauna e flora e contexto para cada instalação e obra artística.
Há muito a acontecer na Serra da Estrela, para além do caminho turístico tradicional. A rede das Aldeias de Montanha é um possível agregador de inovação e empreendedorismo e a ADIRAM acolhe, com entusiasmo, os projectos que pensam alto e que pensam futuro.
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