Nos últimos tempos fomos surpreendidos com uma notícia curiosa. No Público, no Diário de Notícias e na TSF fala-se sobre as novas escolas de pastores e o interesse que estão a gerar junto do público.
Na escola de Pastores do Alvão, chegam alunos de áreas tão distintas como medicina ou engenharia aeroespacial. Já em Castelo Branco, há turmas cheias e uma faixa etária que vai dos 18 aos 70 anos. Em ambos, homens e mulheres de todo o país, empenhados, curiosos, de olhos postos no futuro e no conhecimento.

O que são os pastores do futuro?

Desde sempre, o pastor é um jardineiro da paisagem, é um gestor do território, é um bombeiro de serviço. Promove a economia rural e defende as raças autóctones.

Hoje, o mundo é mais exigente: sustentabilidade, rentabilidade, produção inovadora, valorização da profissão e capacitação das próximas gerações são os novos conceitos para uma visão dos pastores do futuro.

Festival da Transumância na Serra nas Aldeias de Montanha

Rota das Canedas, em Alvoco da Serra

O papel da ADIRAM – Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de Montanha

A ADIRAM  no âmbito do projeto europeu “EU4SHEPHERDS, está a proceder ao levantamento das necessidades educativas dos pastores (atuais e futuros) e a estruturar uma plataforma online de ferramentas educativas dedicadas exclusivamente à pastorícia extensiva, para serem usadas por qualquer formador com interesse nesta área.

As “Escolas de Pastores” em Castelo Branco e Viseu (promovida pelo Inovcluster com os Politécnicos de Castelo Branco e Viseu) e no Alvão (promovida pela Federação Nacional das Raças Autóctones (FERA), em parceria com a Aguiarfloresta – Associação Florestal e Ambiental de Vila Pouca de Aguiar), foram as primeiras iniciativas nacionais, ainda que em pequena escala e isoladas do sistema de ensino formal.

No resto da Europa existem já escolas com percursos educacionais especificamente desenhados para a pastorícia extensiva – na Roménia existem formações exclusivamente para a pastorícia de montanha; na Alemanha esta formação é obrigatória para a profissão.
Em simultâneo, por toda a Europa, há também um desinteresse generalizado pela pastorícia enquanto carreira profissional do futuro para os jovens.

Ainda que sejam dois vetores em direções opostas, se assumirmos que é um assunto de nicho, parece claro haver espaço para ele!

Pastor na Rota dos Galhardos, em Folgosinho

Aldeia de Montanha Cadafaz

Formação: a ferramenta dos pastores do futuro

O território da Serra da Estrela está profundamente ligado à pastorícia, desde sempre – é um dos mais representativos desta prática ancestral em Portugal.  Historicamente, é uma profissão associada a baixos rendimentos económicos, alguma marginalização social e uma imensa solidão contemplativa. Não existe ainda uma valorização adequada do valor ambiental e ecológico da atividade de pastor, que está em risco de desaparecimento.

Não é, claramente, algo para todos ou uma profissão fácil, e isso leva-nos a algumas questões imediatas.

 

Que formação necessita quem quer ser pastor profissional em Portugal? E que ferramentas educativas específicas deveriam existir para esta profissão? O que podemos aprender com outros países europeus mais desenvolvidos nesta temática?

É com estas questões que a ADIRAM integra o projeto europeu “EU4SHEPHERDS – Formação inovadora para pastores sustentáveis”: um projeto de três anos financiado pelo programa internacional Erasmus Mais que conta com nove parceiros europeus, dedicados a melhorar e atualizar as ofertas formativas existentes na Europa, focadas na  pastorícia extensiva.

Através da partilha de conhecimento à escala europeia, apoiam-se formadores e educadores que trabalham diretamente na formação de novos pastores, gerando conhecimento atual e relevante, capacitando e respondendo às necessidades dos pastores do futuro.

 

Há um interesse renovado a despontar sobre a atividade de pastor: seja pelo apelo do regresso às origens, mudanças profissionais, valorização da natureza, vontade de crescer como negócio. As motivações são muitas e transversais, a resposta é clara: mais conhecimento é a chave do sucesso!